Por: Marcela de Paula
Fotos: Marcela de Paula
Após a divulgação de um vídeo em que uma mãe de santo é obrigada por homens armados a quebrar símbolos da religião de matriz africana no Rio de Janeiro, praticantes e não praticantes destas religiões se reuniram na Praça da República em São Paulo no último dia 20, em protesto contra atos de violência e intolerância religiosa.
A Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa reuniu centenas de pessoas no centro da cidade em uma afirmação da liberdade de culto e uma demonstração das tradições e crenças de Umbanda e Candomblé.
O Estado do Rio de Janeiro lidera o ranking de denúncias contra intolerância entre os anos de 2011 e 2015. Foram 697 ao todo, sendo os maiores alvos as religiões de matriz africana, segundo pesquisa do Centro de Promoção da Liberdade Religiosa & Direitos Humanos (CEPLIR).
Secretário estadual de Direitos Humanos do Rio, Átila Nunes, afirma que esse número é inferior à realidade: “Existe uma subnotificação muito forte dos casos de intolerância religiosa e, para fazer o registro policial, há ainda muito medo”, disse ele.
Apesar dos crescentes casos de ataques à símbolos e terreiros contra as religiões de matriz africana, o STF autorizou, na última quarta (27), o ensino religioso confessional em escolas públicas brasileiras. Na prática, a determinação abre espaço para a doutrinação religiosa e o silenciamento de outras crenças em sala de aula, em oposição à recomendação vigente atualmente, com ensino facultativo e sem predomínio de nenhuma religião específica.
Em solidariedade à todas as pessoas que já sofreram algum preconceito ou violência por sua religião, o intuito da reunião no centro de São Paulo tinha como pilar essencial: protestar, se fortalecer em corrente e amor pelo culto e recebido dele.
O que sentem essas pessoas que pedem por respeito?
“Se nossa raiz é vinda da África e nós já passamos por isso há muitos anos atrás, porque não lutar agora, nesse momento, por dias melhores? Eu acredito no amanhã. Estamos aqui formando uma corrente de axé, força e amor.
-Cristiane de Obaluaê
“As pessoas tem que começar a respeitar a umbanda e o candomblé como as outras religiões. Cada um acredita num Deus, porque ninguém sabe quem é o verdadeiro Deus.”
– MC Soffia
“Eu peço a Deus para expandir a mente dessas pessoas que não aceitam a gente, eu não entendo todo esse ódio. Eu tô aqui hoje para reforçar essa corrente. É uma corrente de amor e a gente quer mostrar isso para as pessoas.”
– Elvira
“Já fomos tirados das nossas terras, já foi retirado tudo o que é nosso, desde as nossas riquezas, até a nossa dignidade. A nossa religião é uma das poucas coisas que nos resta e é o que nos deixa mais fortes até mesmo para recuperar as coisas que nós perdemos.”
– Jaqueline
“Eu queria entender porque aquilo era tão demonizado, o que acontecia de tão espetacular naquele ritual para que as pessoas ou amassem tanto ou odiassem tanto. Aí quando eu entrei não deu mais pra sair.”
– Souto MC
“Hoje eu não sou praticante de nenhuma religião, mas minha infância foi em terreiro, então pra mim é fundamental estar aqui. Acredito que muitas coisas precisam ser feitas, mas o [efeito] mínimo da mobilização é mostrar a nossa indignação e que a gente não vai ficar quieta em casa.”
– Gabi Nyarai
“A religião é tudo. A gente acorda com o espírito, com o orixá. A gente vive o orixá e a religião, pra mim é o respeito, é humildade e não ter diferenças.”
– Marcelo
“Antes do terreiro eu não me conhecia no mundo, depois entendi os meus caminhos, comecei a seguir, cuidar dos meus guias, dos meus orixás, isso tem importância total na minha vida. Muita coisa foi arrancada de nós, e quando a gente vai pro terreiro, é como se estivesse religando, a gente volta mares e mares de distância, é maravilhoso.”
– Fábio
“É uma coisa de berço, cultuo e amo a minha religião. O candomblé pra mim é chão, é pé, é estrada, é caminho, é tudo na minha vida, é doação, é amor, é amor ao orixá.”
– Soraia de Obá
“O candomblé não vive sem erva, não vive sem a mata, sem a natureza. Isso é vida, é tudo o que tem de bom na terra que a gente pode contemplar, que é a natureza.”
– Fernando
“A gente tá lutando pela nossa identidade, pelo direito de cultuar o nosso sagrado,é maravilhosa essa união, essa força. A religião nesse sentido de comunhão, de dividir, de família mesmo sabe? É maravilhoso. Eu to achando tudo isso aqui maravilhoso.”
– Carla
“Nossas religiões já foram demonizadas, já foram perseguidas e nós não vamos aceitar isso e temos que dizer que não é só intolerância, é racismo, a gente não vai retroceder.”
– Tati Nefertari